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Scott Feiner

Quem circula pelas noites musicais do Rio de Janeiro já deve ter ouvido o som do pandeiro de Scott Feiner. Americano de nascimento, o percussionista descobriu sua alma brasileira e trocou a terra do Tio Sam pelo calor das rodas de samba da Lapa.

Feiner já havia sido guitarrista profissional, quando em 1999 desembarcou no Brasil para uma viagem curta. Em Pernambuco se encantou com o som de um garoto que tocava pandeiro. O interesse foi tanto que na primeira oportunidade comprou um pandeiro. Nascia ali uma paixão que permanece até hoje. Desde então vem estudando e se aperfeiçoando no instrumento.

A trajetória de Scott mostra também o lado empreendedor do músico. Ele vende pandeiros artesanais de luthiers do interior do Brasil para diversos países do mundo, além de ter elaborado o mais completo site feito sobre o instrumento - o www.pandeiro.com -, que logo contará com versão em português. Feiner ainda busca patrocínio para concluir o seu documentário "Meu Coração é um Pandeiro" no qual atua como diretor. Também já se virou dando aulas de inglês.

Hoje seu grupo Pandeiro Jazz é referência na percussão jazzística. Já fez shows em clubes tradicionais como Jazz Standard e Smoke, em Nova York , além de apresentar-se na Europa. Mas Scott adora tocar um bom samba ou choro. “Gostaria que surgissem mais oportunidades para tocar na Lapa”, completa ele, que já acompanhou em canjas grandes nomes da música brasileira como Moacyr Luz, Nelson Sargento, Wilson das Neves, Beth Carvalho, Hamilton de Holanda, Teresa Cristina, Trio Madeira Brasil, entre outros.

 

Scott Feiner

Scott Feiner

Entrevista *

* Reealizada por e-mail em 11/12/07

Percussionista:
Por que o pandeiro?

Scott Feiner:
Eu queria ser baterista quando garoto, mas acabei tendo aulas de guitarra. Comecei a ouvir a música brasileira por volta de 1993, mas não tinha conhecimento sobre o pandeiro até 1999, em minha visita ao Brasil. Eu estava em Olinda e vi um garoto na rua tocando pandeiro e fiquei imediatamente fascinado. Eu então passei três dias no Rio e comprei um pandeiro barato de turistas. Quando voltei para Nova Iorque depois de 11 dias de viagem estava determinado a aprender a tocar o instrumento. Falei com muitas outras pessoas que tiveram experiências similares. O pandeiro tem uma qualidade adicional, como em nenhum outro instrumento..

P.:
Quais as suas referências de pandeiristas?

S.F.:
Para o estilo carioca de tocar pandeiro de couro, minhas influências são principalmente do Jorginho do Pandeiro, Celsinho Silva e Marcos Suzano. De qualquer forma, existem muitos pandeiristas que eu gosto de ouvir e aprender com eles. Existem alguns jovens percussionistas "rebeldes" como meu amigo Serginho Krakowski que definitivamente abriram meus olhos para algumas das outras possibilidades do instrumento. Também adoro ouvir os pandeiristas mais tradicionais de samba e partido alto. Também tem um cara que toca com a Teresa Cristina, o Paulinho do Pandeiro, aprendi bastante sobre tocar partido alto vendo ele tocar.

P.:
O que difere sua técnica das demais?

S.F.:
Minha técnica é basicamente uma mistura de minhas influências. De qualquer forma, acho que desenvolvi certos modos pessoais de tocar certos ritmos com um tipo de "sabor" ou swing que pode ser considerado meu. Gosto de usar o ataque do meu polegar no centro do pandeiro para imitar o som da caixa (snare drum) ao invés do típico tapa que Suzano tornou popular quando toca sua batida começando pelos dedos (backbeat). Eu também uso muito a minha mão esquerda para tocar as quiálteras, criando um efeito como um toque aberto do contra-tempo (high-hat) da bateria. O grande mestre Celsinho Silva uma vez me falou que eu tenho uma mistura dele com o Suzano, mas o resultado é meu próprio estilo e som. Esse foi, é claro, um grande elogio vindo do Celsinho! Sempre estive cercado por grandes bateristas e ouvia um monte de gravações. Eu instintivamente tentava deixar essas influências no meu toque de pandeiro. Quando estou tocando com meu grupo, ouço caras como Elvin Jones e Tony Williams em minha mente.

P.:
Como foi a introdução do jazz no pandeiro?

S.F.:
Eu estava visitando Nova York, onde eu nasci, em 2004 e toquei em uma guig com alguns velhos amigos (o guitarrista e o saxofonista que participaram do CD Pandeiro Jazz). Tinha algumas músicas brasileiras e alguns tons de jazz, mas tudo era tocado com muita improvisação. Era muita diversão e muito desafiador. Eu gravei para ouvir em casa e decidi produzir o CD do Pandeiro Jazz, gravado em 2005 e lançado em 2006.

P.:
Como surgiu a idéia de criar o portal Pandeiro.com?

S.F.:
Eu estava trabalhando no meu documentário "Meu Coração é um Pandeiro" e pensei que seria legal ter um site para promovê-lo. A idéia começou a crescer e eu notei que havia um grande interesse de pessoas de fora do Brasil por pandeiros de boa qualidade. Eu pessoalmente experimentei isso quando ainda morava em Nova Iorque. Então, em 2004, lancei o pandeiro.com e foi um grande sucesso. Tenho feito muitos amigos e também enviado pandeiros para pessoas em 30 países pelo mundo.

P.:
O que tem escutado?

S.F.:
Eu ouço muitos tipos de músicas diferentes. Às vezes passo um período ouvindo apenas música brasileira e depois volto a ouvir jazz. Ou algo como Steve Wonder. Sou um grande fã de cantores, talvez por isso eu não cante. Há muitos nomes que posso citar, mas tenho certeza que eu vou omitir muitos. Da música brasileira eu amo Cartola, Paulinho da Viola, Chico Buarque, Gil, Lenine, Joyce. Muitos outros.

Do jazz existem também muitos, muitos nomes. Tenho escutado bastante todos os músicos clássicos, mas também os da nova geração como Brad Melhdau e Kurt Rosenwilkel. Há ainda outros estilos de música mas a lista seria muito extensa.

P.:
Como é o interesse pelo pandeiro brasileiro fora do Brasil?

S.F.:
Cada vez maior! Na verdade, está incrível. Como eu disse, eu tenho vendido pandeiros para as pessoas em 30 países. Eu tenho também oferecido workshops de pandeiro no EUA, Finlândia, Suécia, Áustria e Eslovênia. Eu realmente penso que o pandeiro é ainda "jovem" e há muito espaço para crescer no mundo. É bonito de ver e participar disso.



P.:
Como é ser pandeirista no Brasil?


S.F.:
Difícil! Claro, existem muitos pandeiristas no Brasil, por isso ser um pandeirista gringo é um pouco complicado. Tenho tido muita sorte... Tenho tocado com músicos maravilhosos por aqui. Havia um tempo em que eu tocava toda noite na Lapa, dando canjas com alguns dos melhores músicos de samba e choro da cena carioca. Atualmente tenho tocado esporadicamente com outros grupos, fiz uma participação no Casuarina (primeiro CD), além de guigs na Lapa. Mas esses dias tenho tocado mais nos shows do Pandeiro Jazz. É uma vergonha porque eu adoro tocar o samba tradicional..

P.:
Quais os seus planos para 2008?

S.F.:
Tenho muitos. O ano de 2007 foi um bom para o Pandeiro Jazz. Toquei muito no Rio, em alguns das mais importantes casas de show. Eu toquei também na Europa pela primeira vez como pandeirista - no Pori Jazz Festival na Finlândia e alguns outros países. Eu também toquei algumas vezes nos EUA.

Para 2008 eu planejo gravar dois novos CDs - um em Nova York e outro no Rio de Janeiro. Também espero tocar com mais freqüência, especialmente fora do Rio e também em outros países além do Brasil. Para o pandeiro.com pretendo desenvolver mais conteúdo (incluindo uma versão em português). Planejo ainda lançar meu próprio DVD com aulas.

P.:
Que dica você daria para quem está iniciando no instrumento?


S.F.:
Ser paciente com você mesmo! O pandeiro é difícil e fisicamente desafiador. Trate seu corpo corretamente - alongue antes e depois de tocar e faça no seu tempo. Estude, use metrônomo, toque ouvindo gravações. Desenvolva uma boa base e então, você estará pronto para experimentar mais possibilidades com o instrumento. Divirta-se!

Reportagem:
Marco Pozzana e Igor Higa
Revisão:
Carolina Canegal


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